domingo, 16 de novembro de 2008

BIOGRAFIA DE CARTOLA

Foi no dia 11 de outubro de 1908 no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, que Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu . Primeiro dos oito filhos do casal Aida e Sebastião, o menino passou a gostar de música ainda criança. Aprendeu a tocar cavaquinho com o pai e a partir de então começou a participar de festas de ruas. Aos oito anos mudou-se para Laranjeiras e aos 11 para o Morro da Mangueira, que na época era ainda pequeno e tinha não mais do que 50 casas. Com 15 anos, sua mãe faleceu e os constantes conflitos com o pai o levaram a sair de casa e a abandonar a escola. Passou a viver uma vida de boêmio, entre casas de prostituição e bares. Andava pelas ruas à noite, dormia em trens do subúrbio e acabou contraindo doenças venéreas. Essa rotina o levou a adoecer em um barraco da favela, onde Deolinda, uma vizinha sete anos mais velha, cuidou de sua saúde e mais tarde tornou-se sua primeira esposa.

Trabalhou em tipografias, mas foi como pedreiro que conseguiu um emprego fixo. Vem dessa época o apelido. Para não sujar a cabeça com cimento, ele usava um chapéu-coco, parecido com uma cartola, e seus companheiros acabaram o apelidando de Cartola.

Um de seus amigos e parceiro de composição era Carlos Cachaça, também compositor e morador da Mangueira. Junto com outros compositores, eles faziam parte de um grupo que não dispensava uma briga. Acabaram criando o Bloco dos Arengueiros no Carnaval, que mais tarde agregou novos blocos e, em 28 de abril de 1928, fundaram a segunda Escola de Samba carioca, a Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.

Com as cores verde e rosa escolhidos por Cartola, foi também de sua autoria o samba "Chega de demanda", escolhido para o primeiro desfile da escola. Durante 10 anos eles foi o compositor oficial da Mangueira e assumiu a função de diretor de harmonia até os fins dos anos 30.

Em 1929, seu samba "Infeliz Sorte" foi vendido para Mário Reis e gravado por Francisco Alves, o maior nome do rádio na época. O cantor virou um de seus intérpretes e passou a fazer parte do comércio musical de Cartola, que serviu para que seu nome ficasse conhecido entre os sambistas. Mas ele não fazia questão de ver seu nome nos créditos, queria apenas os direitos sobre as vendas dos discos. As parcerias também não lhe agradavam, preferia fazer suas canções sozinho.

"Um dia apareceu lá no morro o Mário Reis, querendo comprar uma música. Estava com outro rapaz, que veio falar comigo. 'O Mário Reis está aí e quer comprar um samba teu'. Fiquei surpreso: 'O quê? Querendo comprar samba, você está maluco?

Não vendo coisa nenhuma'. No dia seguinte ele voltou e me levou até o Mário Reis. Ele confirmou. 'É, Cartola, quero gravar um samba seu. Fique tranqüilo, seu nome vai aparecer direitinho. Quanto você quer por ele?' Pensei em pedir uns 50 mil réis.

O outro rapaz falou baixinho: 'Pede uns 500 mil'. Eu disse: 'Você está louco, o homem não vai dar tudo isso'. Com muito medo, pedi os 500 mil. Em 1932, era muito dinheiro. O Mário Reis respondeu: 'Então eu dou 300 mil réis, está bom para você?'. Bom, ele comprou o samba mas não gravou. Quem acabou gravando foi o Chico Alves."

Essa história foi o próprio Cartola que contou, em depoimento ao programa MPB Especial, dirigido por Fernando Faro, e transmitido pela TV Cultura, em 1973.

Também na voz de Francisco Alves, o samba "Divina Dama" virou sucesso em 1933. Amúsica "Fita meus olhos" ficou conhecida com Arnaldo Amaral e pôs fim ao curto período de gravações de suas composições. Depois disso, ele se afastou do meio artístico e se dedicou à Mangueira, que em 1936 teve seu samba "Não quero mais" em parceria com Carlos Cachaça e Zé da Zilda, premiado no desfile daquele ano.

Nessa época, trabalhou também na Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro, cantando músicas suas e de outros compositores, e criou o programa “A voz do Morro”, no qual apresentava sambas inéditos e dava aos ouvintes a tarefa de nomeá-los. Em 1940 o maestro Heitor Villa-Lobos o convidou para participar de uma gravação, junto com um grupo de sambistas, para o famoso maestro norte-americano Leopold Stokowski, que tinha o objetivo de reunir músicas nativas na América Latina. "Quem me vê sorrindo", samba composto com Carlos Cachaça, foi gravado e o disco lançado apenas nos Estados Unidos.

A partir dessa década sua vida mudou radicalmente. Sua relação com a diretoria da Mangueira não estava boa, ele contraiu meningite e foi morar em Nilópolis, na Baixada Fluminense. Sumiu do meio musical, foi dado como morto e até alguns sambas foram feitos em sua homenagem. Sua mulher morreu pouco tempo depois de ataque cardíaco.

Sem a esposa Deolinda, ele mudou-se para uma favela no bairro do Caju, onde reencontrou Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, cunhada de seu amigo Carlos Cachaça. Ela o encontrou entregue à bebida, desdentado, vivendo de biscates e com um problema no nariz.
Ainda assim se apaixonou por ele e o levou de volta à Mangueira. Data desse período a composição "Fiz por você o que pude" que dedicou à sua Escola de coração.

Cartola passou a ser vigia noturno e a lavar carros em um edifício em Ipanema. Em 1956 o jornalista Stanislaw Ponte Preta o encontrou trabalhando e resolveu lançá-lo novamente no meio musical, tornando-o mais popular. Mas isso ainda não o ajudou financeiramente e depois te ter se casado com Zica em 1964, ele abriu o restaurante Zicartola, na Rua da Carioca. Além da boa comida, lá se reuniam sambistas do morro e jovens compositores. O restaurante ficou famoso, virou moda na cidade, mas fechou dois anos depois por má adminitração.

Apesar dos grandes sambas que fez, somente em 1974, aos 65 anos, ele gravou seu primeiro disco produzido por Marcos Pereira e entitulado "Cartola". O disco recebeu vários prêmios e dois anos depois ele gravou seu segundo LP também com o título "Cartola". No disco estava a música "As rosas não falam", uma de suas mais famosas composições. Usada como trilha sonora de uma novela da Rede Globo, a música trouxe grande popularidade para o compositor. O sucesso foi grande e ele começou a fazer shows pelo país. Com o ascenção no meio artístico, voltou também a desfilar na Mangueira em 1977, depois de 28 anos fora da Escola de Samba. Nesse mesmo ano lançou seu terceiro disco, "Cartola- Verde Que Te Quero Rosa".

A casa do compositor se tornou atração e a freqüente visita de jornalistas e músicos fizeram com que se mudasse para Jacarepaguá na busca pela tranqüilidade para continuar compondo. Era a primeira casa própria adquirida com o recente sucesso dos discos vendidos, apesar de uma vida inteira dedicada à música. Ainda em 77 estreou "Acontece", seu segundo show individual.

No ano seguinte descobriu um câncer na tireóide e foi aperado em 78. A doença não o impediu que gravasse seu quarto disco, "Cartola – 70 anos", que foi lançado em 1979. Mas no dia 30 de novembro de 1980 o compositor faleceu, deixando um legado de grandes músicas. Em homenagem a ele, vários artistas como Beth Carvalho, Alcione, Paulinho da Viola e Chico Buarque gravaram discos com regravações de seus sucessos. Além disso, em 1983, Marília T. Barboza da Silva e Arthur Oliveira Filho lançaram o livro "Cartola, Os Tempos Idos", uma biografia do grande músico brasileiro.

Um comentário:

Dani Pereira disse...

Bom dia!!! Achei interessante seu blog. Estou escrevendo um projeto para a universidade sobre a vida do Cartola. Gostaria de saber se você me indicaria um livro que tenha a biografia completa do compositor. Se puder me enviar alum artigo ou documentos que você tenha sobre ele, ficaria muito grata. Envio meu e-mail para contato: danielleadm.pereira@gmail.com
Att,
Danielle